Por Sávio Hackradt
Desde o dia 8 de janeiro que o termo polarização voltou com força nas mídias e redes sociais. Nos jornais, revistas, blogs, Twitter, Instagram, entre outros, foram centenas de pequenos textos, artigos e opiniões tratando da polarização política no país, entre o bolsonarismo e o lulo-petismo. Argumentos contra e a favor, para todos os gostos.
No mundo da política, a polarização se manifesta nas divergências, que podem ocorrer entre grupos, partidos e instituições, ou na população em geral. Entramos no ano das eleições municipais, onde sempre afloram as emoções político partidárias e ideológicas. Ao se instalar a polarização, o argumento e o debate democrático vão para a lata do lixo, prevalecendo as emoções à flor da pele de cada um e cada uma. E quando se chega a este estado de ânimo, a capacidade do debate racional se esvai, a objetividade desaparece e todos perdem.
Não perco mais tempo em debater os rumos da política da minha cidade, do meu estado, do meu país e do mundo em que vivemos, com alguém que está entorpecido pelo espectro partidário no campo ideológico, que não consegue enxergar nada além de seus ídolos e mitos. Essas pessoas simplesmente perderam a capacidade de dialogar, de debater democraticamente e racionalmente sobre as questões que se impõem à vida em sociedade. Passaram a enxergar apenas o próprio umbigo.
A questão que trago para a reflexão é se a polarização vai predominar nas eleições municipais. Fatalmente, os candidatos petistas e bolsonaristas vão procurar polarizar nas eleições de outubro próximo. É interessante eleitoralmente, para ambos, já que uma faixa do eleitorado vive a polarização político partidária e ideológica do bolsonarismo x o lulopetismo. Não posso falar em termos percentuais precisos o que isso significa no eleitorado, porque não conheço pesquisa que trate desse assunto, mas arrisco um palpite: 30 por cento do eleitorado vive nesse mundo polarizado e a maioria expressiva, 70 por cento, não está nem aí para essa briga política. É o que imagino. Deixo aqui uma sugestão aos institutos de pesquisa para que, neste ano, incluam entre as questões perguntas sobre a polarização política e ideológica, além das intenções de votos.
A minha experiência em campanhas eleitorais municipais é que o debate sobre as questões locais de cada município é a agenda que predomina nesse tipo de disputa. Os cidadãos e cidadãs exigem dos candidatos respostas imediatas para os problemas que encontram todos os dias nas ruas, nos bairros, no transporte público, nos postos de saúde, nas escolas municipais, nas creches, na mobilidade urbana, enfim, em tudo aquilo que atinge o seu dia a dia na comunidade, na família, no trabalho e no lazer. Este diálogo é muito rico e traz objetividade aos planos de governo dos candidatos, que passam a se alinhar às necessidades expressas pela população. A polarização tira estas questões do foco do debate, prejudicando diretamente a população que mais carece dos serviços públicos.
Na eleição para a prefeitura de Natal, só o pólo do lulopetismo definiu sua posição, com a candidatura da deputada federal Natália Bonavides (PT). O bolsonarismo patina, sem definir quem será o seu candidato. O deputado federal general Girão (PL) tem se esforçado para ser o candidato do bolsonarismo raiz, mas até o momento não conseguiu viabilizar sua candidatura.
Correndo distante dos pólos, com uma história à frente da prefeitura de Natal, o ex-prefeito Carlos Eduardo (PSD) entrou o ano de 2024 com folgada vantagem de intenção de votos em todas as pesquisas, em relação à candidata petista e ao possível candidato bolsonarista, indicando assim que o eleitor e a eleitora natalense não mostram disposição de aceitar a polarização radical entre lulopetismo e bolsonarismo.