Do G1RN
Ao cair no chão, o alimento quase que automaticamente entra em contato com diversos microrganismos. Desenvolvimento de uma infecção vai depender da quantidade de germes presentes na superfície.
Sua comida favorita cai no chão. Cinco segundos. Não tem ninguém olhando, você se abaixa para pegar, dá uma leve assoprada e come. Afinal, mal não vai fazer, certo? Não é bem assim.
Apesar da “regra dos cinco segundos” ser uma prática muito comum quando algum alimento cai no chão, os especialistas explicam que ela não passa de um mito. Tudo o que cai no chão fica contaminado em alguma medida.
Mas qualquer ingestão de uma comida contaminada significa se infectar com alguma doença?
Para responder esta pergunta, é preciso entender alguns pontos:
- Ao cair no chão, o alimento quase que automaticamente se contamina;
- Desenvolvimento de uma infecção vai depender da chamada dose infectante dos microrganismos;
- Algumas superfícies facilitam a proliferação de germes e podem favorecer a contaminação.
(Esta reportagem faz parte de uma série do g1 sobre germes que também vai explicar quais são os microrganismos nocivos mais comuns no dia a dia, os mitos e verdades sobre germes e qual a importância do contato das crianças com os microrganismos).
Caiu, contaminou
Ao cair, o alimento entra em contato com os microrganismos presentes na superfície e, assim, se contamina.
“Não tem como garantir que qualquer coisa que cai no chão vai manter a mesma qualidade que tinha antes de cair”, analisa o doutor em ciência dos alimentos e professor da Universidade Federal do Paraná ((UFPR), Luciano Bersot.
Cristiane Guzzo, professora do departamento de microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, também afirma que é fato: caiu no chão, vai se contaminar.
“Mesmo esse tempo sendo aparentemente curto, de cinco segundos, é mais do que o suficiente para que a comida se contamine”, observa.
Assim, não há um tempo mínimo considerado seguro para comer algo que caiu no chão uma vez que o simples contato já é o suficiente para a contaminação.
Microrganismos no chão e dose infectante
Apesar da regra dos cinco segundos não ser verdadeira, a lógica de que a pessoa não vai morrer se comer algo que cair no chão tem algum fundamento.
Isso porque a doença a ser desenvolvida a partir da ingestão desse alimento depende do que os especialistas chamam de dose infectante.
Dose infectante é a quantidade de microrganismos necessária para causar uma infecção. Esse número vai variar de acordo com o tipo de microrganismo, levando em consideração as diferentes agressividades.
O problema, de acordo com Guzzo, é que não é possível saber se no chão há um microrganismo potencialmente nocivo à saúde e se está em quantidade infectante ou não.
Luciano Bersot lembra que não há superfície isenta de microrganismos, mas a evolução para uma infecção sempre vai depender do número de germes presentes.
“Pode ser que o chão tenha resíduos e uma concentração tão alta de bactérias que o simples contato do alimento com a superfície já vai torná-lo um veículo do microrganismo em nível infectante”, analisa o professor.
Superfícies mais contaminadas
Ainda que uma superfície nunca esteja livre de microrganismos, algumas tendem a ser mais contaminadas do que outras – o que pode contribuir para que o alimento que caia nesses locais acumule uma dose infectante.
Cristiane Guzzo explica que muitos fatores distintos podem fazer com que um local seja mais contaminado, mas destaca dois que ajudam a aumentar a quantidade de microrganismos presentes:
Grande circulação de pessoas: o fluxo intenso de pessoas por uma área auxilia no transporte de sujeira e germes para o local. Por isso, o chão de lugares como estações de metrô, hospitais e até a própria rua são superfícies que tendem a ser muito contaminadas;
Material do qual a superfície é constituída: há materiais que são mais difíceis de serem higienizados e, assim, facilitam o acúmulo de resíduos e microrganismos.
A microbiologista cita que entre as superfícies mais contaminadas no nosso dia a dia estão as maçanetas e os corrimãos. Mesmo sendo feitas normalmente de metal, que tende a ser de fácil higienização, são estruturas em que há contato constante com as mãos, o que facilita a proliferação de microrganismos.
Bersot também cita a madeira como sendo um material que é complicado de ser limpo. Nesse sentido, as tábuas de corte na cozinha, por exemplo, são superfícies que em geral ficam muito contaminadas. “Por ser um material poroso, os resíduos são mais facilmente absorvidos”, destaca o especialista.
O professor ainda comenta que alguns estudos mostram que, quando se trata de ambientes na casa, a cozinha é um dos mais contaminados.
“A cozinha tem um aspecto social importante, geralmente com a presença intensa dos moradores nesse local. E nesse ambiente também há o consumo constante de alimentos, o que pode contribuir para a grande quantidade de microrganismos”, analisa.
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