REFORMA ADMINISTRATIVA

Reforma administrativa: coordenador de grupo de trabalho apresenta pacote de propostas na Câmara. Municípios com até dez mil habitantes terão no máximo 5 Secretarias. Confira projetos:

Deputado Pedro Paulo (PSD-RJ) sugere dividir discussão em três projetos. Proposta combate supersalários, acaba com aposentadoria compulsória e prevê revisão anual de gastos.

Por Kevin LimaMarcela CunhaPaloma Rodrigues, g1 e TV Globo — Brasília

O deputado Pedro Paulo (PSD-RJ) apresentou um conjunto de propostas para modernizar e conter gastos do Estado brasileiro.

  • O pacote contempla três tipos de matérias legislativas: uma PEC, um projeto de lei complementar e um projeto de lei ordinária.
  • A reforma administrativa é uma das prioridades definidas pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), para discussão em 2025.
  • O pacote proposto por Pedro Paulo prevê a criação de uma revisão anual de gastos pelo Poder Executivo, inspirado no chamado ‘spending review’ dos países da OCDE.
  • Embora não enterre de vez os “supersalários”, a proposta do parlamentar tenta fechar o cerco contra os “penduricalhos”, definindo critérios para a concessão dos benefícios.
Coordenador da reforma administrativa fala sobre os próximos passos na Câmara

Coordenador da reforma administrativa fala sobre os próximos passos na Câmara

Coordenador do grupo de trabalho na Câmara, o deputado Pedro Paulo (PSD-RJ) apresentou nesta quinta-feira (2) um conjunto de propostas para modernizar e conter gastos do Estado brasileiro.

O pacote contempla três tipos de matérias legislativas:

  1. uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC);
  2. um projeto de lei complementar;
  3. um projeto de lei.

Os textos ainda não foram formalmente protocolados na Câmara — Pedro Paulo colhe assinaturas para registrar a PEC no sistema da Casa.

A reforma administrativa é uma das prioridades definidas pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), para discussão em 2025.

Motta tem defendido que a proposta é necessária para adequar a administração pública à responsabilidade fiscal e tornar o Estado “mais ágil”.

O pacote proposto por Pedro Paulo prevê a criação de uma revisão anual de gastos pelo Poder Executivo, inspirado no chamado “spending review” dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Embora não enterre de vez os “supersalários”, a proposta do parlamentar tenta fechar o cerco contra os “penduricalhos”, definindo critérios para a concessão dos benefícios. Pedro Paulo propõe, no entanto, abrir caminho para criação de bônus por resultado na administração pública.

Também prevê novas regras para a realização de concursos públicos, limitar o trabalho remoto e restringir outros privilégios do funcionalismo, como as férias de 60 dias.

Nos municípios, a proposta cria limites para a criação de secretarias e para aumentos de salários de prefeitos e para gastos com o Legislativo local.

Para os estados, haverá um teto de gastos com o Judiciário e Legislativo, que será influenciado pela variação da inflação.

Além disso, o pacote acaba com a aposentadoria compulsória para magistrados e membros do Ministério Público que são condenados por infrações disciplinares. Hoje, juízes e promotores são penalizados com aposentadoria e continuam recebendo salários.

Os textos apresentados por Pedro Paulo pegaram de surpresa membros do grupo de trabalho, que afirmaram não terem sido convocados para reuniões e não terem participado do processo de discussão do teor final das propostas.

Sindicatos e entidades ligadas à defesa de servidores públicos também criticam o pacote e afirmam que a reforma pode colocar em risco as entregas feitas à população.

Veja a seguir os principais pontos do pacote apresentado por Pedro Paulo (clique no link para seguir ao conteúdo):

Coordenador apresenta texto da reforma administrativa; veja principais pontos

Coordenador apresenta texto da reforma administrativa; veja principais pontos

Revisão anual de gastos

A proposta divulgada por Pedro Paulo propõe inserir na Constituição que o Poder Executivo terá de realizar uma revisão de gastos contínua.

No caso do governo federal, a medida será feita anualmente e encaminhada ao Congresso junto da proposta de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

Na análise de despesas, o governo terá de avaliar se políticas públicas foram efetivas e se os recursos alocados atenderam aos objetivos definidos previamente.

Em caso de ineficiência do gasto público, valores poderão ser realocados para outras áreas.

A iniciativa é inspirada em um projeto aprovado pelo Senado em 2018. O modelo se baseia no chamado “spending review”, adotado por países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Planejamento estratégico

O grupo de trabalho da reforma tributária sugere criar uma obrigação para que prefeitos, governadores e presidente da República desenvolvam e divulguem um planejamento estratégico para os quatro anos de mandato.

O documento, segundo a minuta de Pedro Paulo, deverá ser apresentado em até 180 dias após a posse do mandatário. O texto terá de abordar metas, objetivos e resultados esperados para a administração pública.

Supersalários

O texto de Pedro Paulo tenta combater as chamadas verbas indenizatórias, conhecidas como “penduricalhos”, que inflam os salários do funcionalismo público acima do limite constitucional — equivalente ao vencimento mensal de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

A proposta não acaba com os “penduricalhos”, mas estabelece que eles somente poderão ser concedidos se atenderem a dois critérios:

  1. ter natureza reparatória, sendo destinadas à compensação de despesas;
  2. ter natureza episódica, de modo que o pagamento não se torne rotineiro e permanente.

Haverá um teto para o crescimento de despesas com as verbas indenizatórias. Segundo a proposta, os gastos com “penduricalhos” não poderão ser superiores aos registrados no ano anterior mais a variação da inflação.

A proposta também estabelece regras para o pagamento retroativo deste tipo de verba. Segundo a proposta, isso somente poderá ocorrer depois de decisão judicial definitiva.

Auxílios para alimentação, saúde e transporte não estarão sujeitos à regra.

Os benefícios, no entanto, terão um teto de crescimento: se o servidor receber salário 90% equivalente ou superior ao de um ministro do STF, o total desses auxílios não vão poder ultrapassar 10% do vencimento mensal.

Bônus de resultado

Embora tente combater os “penduricalhos”, Pedro Paulo propõe a criação de um outro mecanismo para premiar servidores. O texto do parlamentar autoriza a implementação de bônus por resultado.

As condições para o pagamento do bônus terão de ser definidas em um plano estratégico. O benefício poderá ser pago aos funcionários públicos que atingirem individualmente suas metas ou fizerem parte de órgão que atingiu os objetivos estabelecidos pela administração pública.

O bônus, assim como os atuais “penduricalhos”, não será contabilizado no teto de remuneração da administração pública.

O valor vai variar e pode chegar, anualmente, a até dois salários mensais do servidor ou a até quatro vencimentos para pessoas que estão em cargos de confiança.

Fim da aposentadoria compulsória

O deputado Pedro Paulo propõe acabar com a aposentadoria compulsória para juízes e membros do Ministério Público que são condenados em processos disciplinares.

Pelo texto, em caso de falta grave, deverá ser aplicada a perda do cargo ou demissão.

Atualmente, magistrados e promotores podem ser condenados à aposentadoria por infrações disciplinares. A penalização, no entanto, mantém pagamento de salários aos infratores.

Teto de gastos para estados e municípios

A minuta propõe criar um teto de gastos nos Poderes Legislativo e Judiciário dos estados, municípios e do Distrito Federal.

O limite será implementado, segundo o texto, a partir de 2027. O mecanismo estabelece que as despesas com o Judiciário e o Legislativo locais não poderá ultrapassar o total gasto no ano anterior mais:

  • o reajuste da inflação no período, caso a receita do município ou estado tenha registrado variação abaixo da inflação;
  • ou o reajuste da inflação e uma parcela adicional, quando houver alta nas receitas.

Além do teto global, o texto também prevê que os gastos nas assembleias estaduais não poderão ultrapassar 75% do limite mensal da Câmara dos Deputados. No caso das câmaras de vereadores, as despesas mensais não poderão ser superiores às respectivas assembleias estaduais.

Limite de secretarias e salários municipais

Em outra medida para conter gastos nos municípios, a proposta cria um limite de secretarias para as prefeituras que registraram seguidos déficits nas contas. As capitais não serão submetidas à regra.

O teto vai variar de acordo com o tamanho da população:

  • municípios com até 10 mil habitantes: cinco secretarias ou órgãos equivalentes;
  • municípios com população entre 10.001 e 50 mil habitantes: seis secretarias ou órgãos equivalentes;
  • municípios com população entre 50.001 e 100 mil habitantes: sete secretarias ou órgãos equivalentes;
  • municípios com população entre 100.001 e 300 mil habitantes: oito secretarias ou órgãos equivalentes;
  • municípios com população entre 300.001 e 500 mil habitantes: nove secretarias ou órgãos equivalentes;
  • municípios com mais de 500 mil habitantes: 10 secretarias ou órgãos equivalentes.

De forma semelhante, o projeto também cria um teto salarial para prefeitosvice-prefeitos e secretários municipais vinculado ao tamanho da população:

  • municípios com até 10 mil habitantes: até 30% do salário do governador;
  • municípios com população entre 10.001 e 50 mil habitantes: até 40% do salário do governador;
  • municípios com população entre 50.001 e 100 mil habitantes: até 50% do salário do governador;
  • municípios com população entre 100.001 e 300 mil habitantes: até 60% do salário do governador;
  • municípios com população entre 300.001 e 500 mil habitantes: até 70% do salário do governador;
  • municípios com mais de 500 mil habitantes: até 80% do salário do governador.
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